O cinema iraniano – graças a sua internacionalização e sucesso em festivais – volta e meia surpreende o mundo com filmes de altíssima qualidade. Talvez não em recursos de. produção, mas em maturidade de suas abordagens e profundidade de suas histórias, todas forjadas nos profundos sofrimentos de um país permanentemente em guerra interna e externa.
FOI APENAS UM ACIDENTE, de Jafar Panahi (premiado cineasta iraniano) merecidamente tem aparecido em todas as listas de melhores filmes de 2025. Orgulhosamente ostenta a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 2025.
Um acidente de carro completamente ordinário desencadeia uma dramática sequência de eventos pela identificação, por um grupo de pessoas, do torturador que lhes impusera sofrimentos inimagináveis anos atrás. O algoz é sequestrado e preso e as vítimas. passam a discutir qual o fim que devem dar a ele.
O roteiro – também escrito por Jafar Panahi, é magnífico em colocar diálogos existenciais primorosos na boca de pessoas absolutamente comuns, mostrando que o sofrimento e a dor são universais, como o humanismo e a compaixão.
A gente acompanha o desenrolar da trama na beira da cadeira, ansioso por saber qual será o desfecho dado ao torturador.
O filme é tão brilhante que, a certa altura, sem que notemos, este desfecho passa a ser irrelevante, porque no Iran ou nos demais países há em ação outros milhares de violadores dos direitos humanos escudados por estados totalitários de matizes diversas e vítimas sofridas com suas vidas e famílias destroçadas.
Mas, como os personagens de Jafar mostram orgulhosamente, seu humanismo e sua resistência não vão se entregar. A luta continua.
Um grande filme.