O cineasta americano Hal Hartley é justificadamente idolatrado no panorama do cinema independente nos EUA. Roteirista, diretor, produtor e músico em seus filmes, Hartley rodou apenas 37 filmes, o mais recente em 2014.
Ontem me deparei no app CINDIE do NOW, com o filme FAY GRIM, uma história de espionagem por Hal Hartley.
Só depois vim a saber que era o filme do meio de uma trilogia, iniciada em HENRY FOOL (1997) e concluída com NED RIFLE (2014).
Bem ao estilo de Hal Hartley, o filme FAY GRIM (2006) conta a história de uma jovem americana cujo marido desapareceu anos atrás, após matar um vizinho. Fay lida com as habituais dificuldades da vida, vivendo dos cheques de copyrights que a editora do irmão – um poeta maldito que cumpre pena numa penitenciária local – e administra as dificuldades escolares do filho adolescente.
Certo dia, dois agentes da CIA a procuram para ver o que ela sabe do paradeiro do marido que, segundo eles, seria um espião a serviço do terrorismo internacional.
A história toda é completamente maluca. A dona de casa é embarcada para a França, atrás dos supostos diários do marido que conteriam os planos de ataques terroristas em andamento.
Há russos, franceses, árabes, turcos, israelenses envolvidos com agentes secretos e assassinos frios no caminho da hesitante Fay.
Apenas para citar dois elementos típicos do cinema de Hartley, os nomes dos personagens remetem a cineastas (provavelmente preferidos do diretor e roteirista). Há uma misteriosa espiã chamada Bebe Konchalovsky. Há um presidiário especialista em decifrar códigos, chamado Herzog. Coisa de cinéfilo.
A protagonista Fay viaja à Europa vestida com um longo casaco de inverno. Por baixo, uma combinação de lingerie e espartilho. Nas correrias das perseguições que sofre na cidade luz, Fay exibe suas pernas generosamente aos perseguidores e aos espectadores.
Uma das atrações de FAY GRIM é seu elenco. Parker Posey está ótima como Fay. Mas tem Jeff Goldblum, Liam Aiken, D.J.Mendel, Saffron Burrows, J.E, Heyes, Elina Lowersohn, Nikolai Kinski (irmão da Nastassja), Thomas Jay Ryan (o sumido Henry) e Harald Schrott.
O humor – elemento igualmente característico dos filmes de Hartley – é diferenciado. O filho de Fay recebe pelo correio uma encomenda anônima, uma espécie de binóculo que mostra a filmagem de uma orgia. Motivo da expulsão do menino da escola, o aparelho anda de mão em mão, com todos em busca de saber do que se trata. A certo ponto o padre local – que ajuda na busca de Henry), sai a mostrar o aparelho (e o filme nele contido) a diversos religiosos, em busca de uma pista. As reações são absolutamente hilárias.
O cinema de Hal Hartley é muito específico e somente vai agradar quem o conhece.
Vou atrás de HENRY FOOL e NED RIFLE. Quero saber como fica a trilogia de Henry Fool & Hal Hartley.